Ser negro é a mesma coisa que ser loiro, ruivo ou amarelo? Na minha opinião, sim! Entretanto, atualmente, mais do que estar na "moda", ser negro é diferente. Não por uma questão de ideologia, atitude ou força cultural, mas pelo simples e único fator: o da cor. Muito se fala em racismo, preconceito... E quando o assunto é cor da pele, ai o jeito é ficar cheio de dedos para não cometer nenhuma gafe, deslize ou discriminação, já que os "verdadeiros" negros de plantão e defensores da causa ficam preparados para criticar qualquer palavrinha ou expressão rotulada como preconceituosa. Falar a pretinha, a neguinha, xiiiiiiii....Já é quase uma ofensa mortal. No mundo da beleza, não é diferente. Be yourself, por exemplo, sempre foi coisa do passado e quem disse que estilo, idade, peso e "raça" começaram a cair nesse mundo está mentindo.
Na edição do mês de Abril de 2014, a revista People elegeu a mulher mais bonita do mundo e quem ganhou? Já era previsível, a mexicana Lupita Nyong'o. A atriz ganhou destaque nos últimos meses e se tornou uma das mulheres mais idolatradas no mundo das celebridades. Com apenas um filme em Hollywood, ela levou o oscar, virou referência de moda e publicidade de marcas luxuosas como Chanel, Prada, Louis Vuitton ...Por fim, foi eleita a mulher mais bonita do mundo, mas não por ser só bonita e sim por ser negra. Mas calma, negra assim estilo "África" porque se fosse uma negra norte-americana tipo Beyoncé ou brasileira a lá Camila Pitanga já não valeria, pois elas não são negras o "suficiente". Entende? A verdade tem de ser dita e dói. Lupita, além de linda é sortuda. Como atriz, chegou ao topo levando o prêmio máximo da industria cinematográfica, como modelo, já é ícone de marcas famosas e, como negra, já é a representação "fiel" do legítimo DNA africano. Chegou na hora certa, em que ser negro é cool e está na moda.
Pode parecer caricato, mas andam dizendo por ai que ela teve ajuda de Oxum e que a capa é das negras. Me perdoem, mas é mais fácil ela ter tido ajuda de Nossa Senhora de Guadalupe, ou melhor, do Tio Sam! Ah, uma observação: a capa é dela. Pronto! Quero ver se daqui algum tempo se a Liu Wen ou qualquer outra modelo asiática for estampada na People se vão dizer que ela teve ajuda de deuses orientais e que a capa é dos olhos puxados. Hello, o mundo gira entorno do mercado e da beleza.
A cor amarela também está na moda, mas ainda não é cool igual a negra. Modelos chinesas, japonesas, coreanas quase nunca foram destaque de beleza e, tão pouco foram referências nas passarelas, o que felizmente começa a mudar. Progressos estão acontecendo e instituições como a Diversity Coalition lutam por castings multiétnicos no mundo da moda. Vitória? Mercado, meu bem.
Ocorre uma onda de valorização da cor negra com relação as demais. O que eu não entendo, já que a discussão não é racismo, preconceito e busca por igualdade??? São discursos, livros, ideologias, postagens na internet, análises críticas, discussões acadêmicas em torno do fato de ser ter a cor negra. A identidade, a cultura, a força da comunidade negra devem sim serem mantidas e valorizadas, mas não da forma pitoresca e salvacionista como vêm sendo feitas. Ressaltar a todo momento a cor, só fortifica a questão da diferença que é tanto combatida por quem busca a igualdade.
A questão não é bater no peito e falar que sou negra, que tenho cabelo crespo e que tenho DNA africano. A chave não é tornar a cor uma moda, mas sim algo natural que faz parte das diferenças e igualdades que regem o mundo. Não preciso bater no peito e gritar que sou negra, branca ou amarela para fortalecer a igualdade, pois a igualdade está em mim e não na minha cor. O meu comportamento, a minha atitude, o meu pensamento não é de negro, amarelo ou branco, mas sim de ser humano.
Qual a diferença entre a Gisele Bündchen, a Lupita Nyong'o ou a Liu Wen na capa da People? Na complexidade das diferenças e igualdades do mundo atual, nem o Marketing, o mercado consumidor, a beleza, a indústria da moda ou os pensadores contemporâneos conseguem explicar...
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